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Textos Básicos

Governador Valadares

 

Na primeira metade do século XIX, era denominado “Sertão do Rio Doce” o espaço coberto pela floresta tropical, que se estendia entre as áreas povoadas da região central de Minas Gerais e do litoral do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia.  O processo de ocupação, ao longo do século XIX, produziu regionalizações diferenciadas, que restringiram a denominação ao que hoje é a mesorregião do Rio Doce.

 

A nova fronteira agrícola do Rio Doce foi subsidiária do processo de industrialização brasileiro, que demandava por produção de alimentos a preços baixos e matéria prima: minérios e madeira. A estação da estrada de ferro, inaugurada em 1910, reforçou a posição da localidade como entreposto comercial de todo o Médio Rio Doce. Nos anos de 1920, a vila de Figueira - hoje, Governador Valadares - girava em torno de uma rua, próxima de onde passava a linha de ferro. Com efeito, a construção e reforma da estrada de ferro Vitória-Minas, entre 1903-1942, potencializou o processo de ocupação regional, atraindo migrantes de outras regiões de Minas Gerais, de outros estados e estrangeiros de várias nacionalidades. Nas duas décadas seguintes, a instalação de projetos de investimentos de capital (siderurgia, mineração, indústria madeireira) intensificou a ocupação humana, acelerada com a abertura da rodovia Rio-Bahia (1943).

 

A partir das décadas de 1950 e 1960 os limites físicos impostos pela ferrovia, que circundava a cidade, foram rompido pelos bairros Santa Helena e Santa Efigênia, destinados à população mais pobre. Outros bairros surgiram nesta época, reforçando a expansão urbana: Santa Terezinha, São Paulo, São Pedro, Carapina, Querosene e Vila Rica. Na década de 1960, outros bairros dão continuidade ao processo de urbanização da cidade: Esperança, Mãe de Deus, Altinópolis, Santa Rita, Vila dos Montes, Jardim Vera Cruz, Jardim Ipê, Jardim do Trevo, Jardim Atalaia, Penha, Kenedy, Palmeiras, Santo Antônio, Ilha dos Araújos, Vila Mariana e Planalto. Nas décadas seguintes, a cidade cresceu para além da BR116, e de 1990 em diante surgiram mais de 20 novos bairros. Tal expansão, evidentemente, acarretou profundas transformações na malha urbana e implicou exigências infraestruturais de toda a ordem.

 

Referências:

ESPINDOLA, Haruf Salmen. O Sertão do Rio Doce. Bauru: EDUSC, 2005.

SENNA, Nelson. Bacia do Rio Doce. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1906.

SILVA, Geraldo H. C. da. A ação da indústria da madeira em Governador Valadares: o caso da Companhia Agropastoril Rio Doce. Governador Valadares: Univale, 1997. (Monografia)

SOARES, Ruth. Memórias de uma cidade. Governador Valadares: Tribuna Fiel, s/d.

STRAUCH, Ney. A Bacia do Rio Doce – Estudo Geográfico. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Conselho Nacional de Geografia, 1955.

 

 

 

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Enchente e inundação

 

No âmbito de nossa pesquisa, entendemos estes conceitos em uma perspectiva interdisciplinar. Partimos de uma discussão que se coloca no âmbito da Geografia, mas procuramos considerar questões sugeridas pela articulação entre História Social e História Ambiental que propusemos, além da natureza e conteúdo das fontes que pesquisamos.

 

“Os termos enchente e inundação são na maioria das vezes tomadas como sinônimos, principalmente por parte da mídia, entretanto, alguns autores defendem que enchente e inundação são terminologias que apresentam significados diferentes, outros as tratam como terminologias iguais. Para Carvalho et al (2007) o termo enchente, também denominado cheia, significa a elevação temporária do nível d’água em um canal de drenagem em decorrência do aumento da vazão ou descarga. A inundação é caracterizada pelo processo de transbordamento das águas do canal de drenagem para as áreas marginais, também conhecidas como planícies de inundação, quando a enchente atinge cota acima do nível da calha do rio. (...)” (SILVA, 2009, p. 6)

 

“Neste ponto é importante uma ressalva: utilizaremos as noções de inundação, alagamento e enchente, de acordo com as notícias pesquisadas no jornal. De um modo geral, a diferenciação entre as noções causa certa confusão porque são oriundas dos termos, em inglês, “flood” e “flooding”. Entretanto, de acordo com Souza (1996), inundação vincula-se a transbordamentos em áreas costeiras ou na planície costeira, onde não existem ou são raras ocupações ou usos antrópicos. As enchentes são transbordamentos que ocorrem em áreas com ocupação antrópica. Os alagamentos são em áreas distantes dos canais onde ocorre transbordamento com ocupação antrópica e baixo coeficiente de escoamento.” (GENOVEZ; VILARINO; SUPERBI, 2012, p.7)

 

“Para Wollmann e Sartori (2009) as enchentes são consideradas umas das conseqüências da atuação e dinâmica de sistemas naturais que provocam maiores modificações na paisagem. As enchentes não se restringem apenas ao aumento das vazões, mas também aos movimentos atmosféricos, aos processos geomorfológicos e, principalmente às repercussões ocorridas nas áreas afetadas pelas enchentes, especialmente nas áreas urbanas situadas às margens dos rios.” (SILVA, 2009, p. 6)

 

Concordamos com essa perspectiva, entendendo enchentes e inundações como processos cuja historicidade se estende para além dos transbordamentos.

 

Referências:

GENOVEZ , Patrícia Falco; VILARINO, Maria Terezinha Bretas; SUPERBI, Roberto.  Populações ribeirinhas e o processo de urbanização: o horizonte histórico das enchentes em Governador

Valadares a partir do Jornal Diário do Rio Doce. XVIII Encontro Regional ANPUH-MG. Mariana, 24 a 27 de Julho de 2012.

SILVA, Leonardo Alves de Oliveira. A desorganização do espaço urbano em Ponte Nova (MG) frente às grandes enchentes de 1951, 1979, 1997 e 2008.  Viçosa: Curso de Geografia da Universidade Federal de Viçosa, 2009 (monografia), 75p.

SOUZA, C. R. G. Riscos a inundações, enchentes e alagamentos em regiões costeiras. Simpósio Brasileiros de desastres naturais. Florianópolis, 2004.

 

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Risco e vulnerabilidade social

 

Dentro da perspectiva desta pesquisa procuramos salientar as interseções entre sociedade, cultura e natureza. Por isso entendemos que a compreensão de eventos-limite, ou que se convenciona chamar de desastre, catástrofe, só se faz completa na medida em que considera suas dimensões históricas e sociais. As cidades se tornam cenários prioritários para esse tipo de estudo, uma vez que a grande concentração populacional e a heterogeneidade das formas de ocupação do espaço urbano concorrem para potencializar os efeitos de fenômenos climáticos extremos, podendo causar perdas humanas e materiais significativas. A Estratégia Internacional de Redução de Desastre (ISDR) da ONU define desastre ou catástrofe como “grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma sociedade envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais de grande extensão, cujos impactos excedem a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar com seus próprios recursos” (UNISDR, 2009). O risco, portanto, não se caracteriza tão somente a partir das condições naturais, mas da combinação de fatores espaço-temporais que levam em conta os limites de adaptação ou resiliência aos eventos em questão. Daí a importância de utilizar o conceito de vulnerabilidade social, que nos permite articular a percepção dos indicadores de risco ambiental à das desigualdades que caracterizam a ocupação dos territórios, de modo a identificar populações que estão sob condições mais desfavoráveis e repensar políticas públicas que sejam efetivas para combater tal vulnerabilidade.

 

Vale lembrar que “De acordo com Carvalho et al (2007), o processo de urbanização brasileiro é marcado pela apropriação pelo mercado imobiliário das melhores áreas das cidades e pela inexistência, quase que completa, de áreas urbanizadas  destinadas à moradia popular. Tal fato levou a população mais carente a buscar resolver seu problema de moradia ocupando áreas vazias desprezadas pelo mercado. Neste processo, áreas ambientalmente frágeis, como margens de rios, mangues e encostas íngremes, foram ocupadas de forma precária. (...) Não são apenas cidades de grande porte que apresentam áreas ambiental e socialmente vulneráveis a riscos, mas também cidades de pequeno e médio porte, sobretudo aquelas atravessadas por rios ou ribeirões. A ocupação das margens aumenta a vulnerabilidade das residências, fazendo com que surjam setores de alto risco que em virtude dos períodos chuvosos mais intensos, transformam-se em palco de graves acidentes. Outro ponto importante a se destacar é o fato de que nas pequenas e médias cidades não são só as residências de baixa renda que são atingidas por enchentes, inundações ou deslizamentos, mas também residências de classe média e estabelecimentos comerciais”. (SILVA, 2009, p.7-8). Assim, para o contexto que estudamos, “É obvio que a repercussão dos episódios pluviais intensos dá-se de forma desigual, social e territorialmente, pois esses eventos têm um significado diferente para uma família que teve seu barraco alagado, para outros que ficaram presos num ônibus por muitas horas num congestionamento gigantesco e para quem assistiu tudo pela televisão.” (ALVES FILHO; RIBEIRO, 2006, p.146).

 

Não há portanto como conceber uma história das enchentes que não seja também uma história política, em seu sentido mais profundo, quando se proponha a entender os conflitos que estão no cerne da produção da vulnerabilidade social no contexto urbano. “As cidades raramente mudam seu padrões urbanos básicos em resposta às catástrofes. (...) o poder dos direitos de propriedade para estabilizar as formas urbanas e limitar sua evolução em outras direções é imenso”.  (TARR, 2010, p.89). Portanto, “Enquanto persistir a iniqüidade distributiva, as medidas paliativas de evacuação persistirão, e serão necessários contingentes cada vez maiores de técnicos de emergência para lidar com a evacuação de contingentes cada vez maiores de miseráveis em perigo. Assim, é preciso abrandar o fetiche pelo satélite para trazer para o fluxo das relações sociais, em terra, a origem dos problemas dos desastres.” (VALENCIO et at, 2005, p.167).

 

 

Referências:

ALVES FILHO, Ailton Pinto; RIBEIRO, Helena. A Percepção do Caos Urbano, as Enchentes e as suas Repercussões nas Políticas Públicas da região Metropolitana de São Paulo. Saúde e Sociedade v.15, n.3, p.145-161, set-dez 2006.

BLAIKIE, P., CANNON, T., DAVIS, I., WISNER, B.  At risk. Natural Hazards, People's Vulnerability and Disasters. London / New York: Routledge, 1994.

SILVA, Leonardo Alves de Oliveira. A desorganização do espaço urbano em Ponte Nova (MG) frente às grandes enchentes de 1951, 1979, 1997 e 2008.  Viçosa: Curso de Geografia da Universidade Federal de Viçosa, 2009 (monografia), 75p.

STEINBERG, Ted. Acts of God: The Unnatural History of Natural Disaster in America. New York: Oxford University Press, 2006.

TARR, Joel. Urban Environmental History. In: UEKOETTER, Frank. The Turning Points of Environmental History.​ Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 2010, pp.72-89.

UNISDR Terminology on Disaster Risk Reduction (2009) http://www.inpe.br/crs/geodesastres/conteudo/artigos/UNISDR_Terminology_on_Disaster_Risk_Reduction_2009.pdf (acesso em 21/09/2013).

VALENCIO Norma Felicidade L. S.; MARCHEZINI, Victor; SIENA, Mariana;  CRISTOFANI, Guilherme. Chuvas no Brasil: representações e práticas sociais. Política & Sociedade. n° 7, out. 2005, pp. 163-183.

 

 

 

 

 

 

 

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