Nossa pesquisa integra-se ao movimento historiográfico atual que visualiza o impresso a um só tempo como fonte e objeto de pesquisa. Através da terceira geração dos Annales e da renovação do marxismo nas décadas de 1960/1970, a historiografia passou a reservar um novo lugar aos periódicos. A História Cultural ancorada nos estudos das práticas e representações sociais e a História Política renovada ampliaram ainda mais o escopo das análises.

 

Como afirma Marialva Barbosa, é preciso destacar “a dimensão histórica de um mundo pleno de significados, no qual se localizam os meios de comunicação” (BARBOSA, 2007, p.12). Para tanto, é preciso ir além da extração de um ou outro texto de um jornal, e tomá-lo apenas como exemplo, ou como fonte de informação para o historiador. A localização da fonte em uma série, a identificação da sua materialidade e de seu grupo financiador são características indispensáveis para se estudar um artefato editorial atualmente.  

 

Uma parte da pesquisa foi realizada em Belo Horizonte na Hemeroteca da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, compreendendo jornais de abrangência regional, como o Diário do Rio Doce, e de abrangência estadual, o caso dos jornais Estado de Minas e Diário de Minas. Estes dois últimos são considerados tradicionais órgãos da imprensa mineira e frequentemente usados como fonte de informação para historiadores e pesquisadores em geral.

 

O Estado de Minas circulou pela primeira vez em 07 de março de 1928 e faz parte do grupo Diários Associados fundado por Assis Chateaubriand. O EM tem circulação diária e passou a figurar também na internet em 1995. Já o Diário de Minas era um periódico tradicional em Minas Gerais, que foi comprado pelo político Otacílio Negrão de Lima em 1949. Nesta fase, o jornal atuou como plataforma política do prefeito de Belo Horizonte.  Por alguns anos na década de 1960 foi arrendado pelo Jornal do Brasil.

 

Outra parte da pesquisa foi realizada em Governado Valadares, em consulta direta ao acervo do Diário do Rio Doce. O DRD, como é conhecido no Leste de Minas Gerais, foi fundado como uma publicação conservadora no dia 30 de março de 1958 por um grupo de empresários ligados à Associação Comercial de Governador Valadares.Atualmente com 55 anos, o DRD conta com 80 funcionários que atuam na redação, comercialização, administração, impressão e entrega do jornal. Além da versão impressa, há a versão online.

 

Em nossa pesquisa, adotamos o recorte entre os anos de 1979 e 1997 e selecionamos amostras significativas neste intervalo. Foi feita também uma seleção no que diz respeito aos meses a serem pesquisados, dando-se preferência àqueles com maior índice pluviométrico. Ocorreu um estudo mais detido dos números publicados nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, sendo este último escolhido mais pelo que documenta das consequências das enchentes.

 

 

 

Referências

 

BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa: Brasil, 1900-2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

 

BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

 

DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

 

DE LUCA, Tânia Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: Pinsky, Carla Bassanezi (org). Fontes históricas.São Paulo: Contexto, 2006

 

RIBEIRO, Ana Paula Goulart, HERSCHMANN, Micael (org); Alzira de Abreu... [et al.]. Comunicação e história: interfaces e novas abordagens. Rio de Janeiro: Mauad X: Globo Universidade, 2008.

 

RODRIGUES, Carla Corradi. Quem detém a mídia, detém o poder? Jornalismo e política nas páginas da revista Alterosa (1962-1964). Dissertação. Departamento de História, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013.

 

SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Chapecó: Argos; Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004.

 

WERNECK, Humberto. O desatino da rapaziada: jornalistas e escritores em Minas Gerais. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.